RODRIGUES, Rosilene Gomes de Azevedo. Desafios e Possibilidades do Matriciamento
na Construção do Cuidado em Saúde Mental na Atenção Básica em Saúde. 2018. 106p.
Dissertação (Mestrado em Psicologia). Instituto de Educação, Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2018.
A Atenção Básica à Saúde (ABS) constitui a porta de entrada privilegiada do sistema de saúde
no Brasil. As equipes de Saúde da Família (eSF) atuam como referência no cuidado em saúde
realizado nos territórios e, para tal, contam com o apoio especializado de múltiplos
profissionais que compõem o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). Nesse contexto,
presta-se o atendimento e acompanhamento a diferentes casos, incluindo demandas de saúde
mental. Esse processo de construção coletiva da assistência em saúde apresenta-se como uma
realidade nova para as equipes, contraponto ao modelo tradicional de organização vertical e
hierárquica dos dispositivos de saúde, em que o encaminhamento de casos ocorre mediante
transferência de responsabilidades e com precariedades na comunicação. O matriciamento
proporciona uma construção compartilhada e integradora entre os profissionais das equipes de
referência - eSF - e de apoio - NASF. Este estudo buscou conhecer os processos de construção
do cuidado em saúde mental na ABS conforme a percepção de profissionais que atuam como
matriciadores em um dos territórios do município do Rio de Janeiro. No levantamento dos
dados, quatro psicólogas e quatro assistentes sociais participaram de entrevistas
semiestruturadas individuais, conduzidas a partir de um roteiro de questões abertas elaborado
para as finalidades da pesquisa. Foram investigadas suas percepções acerca do processo de
matriciamento em casos de saúde mental na ABS, tais como características da construção do
cuidado e modos de interação entre as equipes, bem como foram sondados os desafios, limites
e possibilidades do apoio técnico do NASF. Os dados obtidos foram categorizados e
analisados qualitativamente, de acordo com a perspectiva metodológica da Análise de
Conteúdo de Bardin. Os principais resultados foram organizados em três eixos temáticos, a
saber: aspectos conceituais e práticos que caracterizam o apoio matricial; práticas de apoio
matricial da equipe NASF às equipes ESF e, por fim, percepções de processo e resultados do
apoio matricial nos casos de saúde mental. O matriciamento foi caracterizado como oferta de
apoio técnico e construção conjunta de ações de cuidado, bem como foi entendido como
oportunidade de capacitação e fortalecimento das equipes de saúde e de melhoria dos serviços
oferecidos à população. Sobre as práticas de matriciamento, as entrevistadas relataram e
exemplificaram tipos e modos de demandas de saúde mental que as eSF apresentam ao
NASF, esclareceram a dinâmica das interações entre as equipes, bem como apontaram
dificuldades e desafios percebidos ao longo destas interações, como baixa disponibilidade,
centralidade do cuidado e resistência às propostas de capacitação. No que concerne à
avaliação de resultados do apoio matricial no âmbito da saúde mental, as profissionais
destacaram a relevância e contribuições das ações do NASF, apontando seu papel estratégico
e seus avanços. Enquanto aspectos que favorecem a construção do cuidado, foram referidas a
atualização dos profissionais, carga horária ampla para este tipo de trabalho e número menor
de equipes para matriciar. Por outro lado, foram sinalizados aspectos que limitam o
matriciamento, sobretudo alta demanda de casos de saúde mental, quantidade alta de equipes
para matriciar, rotatividade de profissionais e falta de apoio para a continuidade e conclusão
dos atendimentos. O estudo possibilitou uma visão ampla e detalhada dos processos de
matriciamento do NASF no trabalho junto às eSF, que se mostraram permeados por limites e
desafios, mas também por avanços já reconhecidos na construção do cuidado em saúde
mental.